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As apostas esportivas, como as oferecidas por plataformas como Blaze, Betfair e Jogo do Tigrinho, não devem ser vistas como uma forma de investimento. Embora muitas pessoas enxerguem as apostas como uma oportunidade de ganhar dinheiro rapidamente, elas não seguem os princípios fundamentais dos investimentos, que envolvem planejamento, riscos calculados e objetivos a longo prazo. Em vez disso, as apostas devem ser tratadas como um jogo ou entretenimento, com chances extremamente desfavoráveis para o apostador.

No Brasil, o mercado de apostas esportivas tem crescido exponencialmente. Em 2022, o país ultrapassou o Reino Unido, tornando-se o líder mundial em acessos a plataformas de apostas online. Estima-se que cerca de 22 milhões de brasileiros participam dessas apostas, um número sete vezes maior que o de investidores na Bolsa de Valores, por exemplo. Isso revela uma tendência preocupante: mais brasileiros estão dispostos a apostar no “jogo” do que a investir em opções financeiras mais seguras e estruturadas, como ações ou fundos de investimento.

A Anbima e o Datafolha divulgaram recentemente um estudo que revela que aproximadamente 22 milhões de brasileiros (14% da população) já participaram de apostas esportivas online. Em comparação, apenas 3,7 milhões de pessoas (2% da população) investem na Bolsa de Valores, a B3. Isso significa que o número de apostadores online é sete vezes maior do que o de investidores em ações.

As plataformas de apostas superaram até mesmo outros investimentos populares. As “bets” superam o percentual de pessoas que investiram em CDBs (5%), criptomoedas (4%), imóveis (4%), fundos de investimento (4%), ações (2%), planos de previdência privada (2%) e títulos do Tesouro Direto (2%).

A única categoria que ainda representa uma fatia maior é a poupança, com 25% dos brasileiros, conforme o estudo “Raio X do Investidor Brasileiro”.

Por que as apostas não são um investimento?

O conceito de “investir” implica a ideia de aumentar seu patrimônio de forma inteligente e planejada, com base em análise e estudo. Já as apostas, sejam em futebol, basquete ou outros esportes, dependem, principalmente, de sorte e acaso. O fenômeno das apostas online apela para a emoção, oferecendo um tipo de “jogo” que proporciona recompensas rápidas e uma sensação de possível vitória. Porém, o que muitos não sabem é que as probabilidades de sucesso são extremamente baixas.

Estudos indicam que a chance de um apostador obter lucros consistentes em apostas esportivas é inferior a 10%. As casas de apostas, por sua vez, sempre têm vantagem, ajustando as probabilidades de forma a garantir que a maioria dos apostadores perca no longo prazo. Portanto, enquanto o desejo de “ficar rico rapidamente” é uma ilusão, o risco de perdas financeiras é real e constante.

A regulamentação das apostas no Brasil

A fim de mitigar os danos causados pelas apostas esportivas, o governo brasileiro tem avançado na regulamentação do setor. A Lei 14.790/23 e outras medidas estão sendo implementadas para garantir maior controle, segurança e responsabilidade. Entre as principais mudanças estão a limitação da idade mínima para apostas, a proibição de publicidade dirigida a menores e a exigência de identificação rigorosa dos apostadores.

No entanto, apesar das regulamentações, muitos especialistas alertam que é necessário um monitoramento constante para combater práticas ilegais e prevenir a manipulação de resultados, lavagem de dinheiro e o vício no jogo. Além disso, as casas de apostas precisam implementar políticas de prevenção ao jogo patológico, proporcionando apoio para aqueles que estão em risco de se tornar dependentes.

O vício em apostas e os seus impactos sociais

Um dos maiores riscos das apostas esportivas é o desenvolvimento de vício. A exposição constante à possibilidade de ganho, somada à sensação de “quase vitória”, cria um ciclo emocional que pode ser difícil de quebrar. Como demonstrado em experimentos, a sensação de estar “quase ganhando” mantém os jogadores envolvidos por mais tempo, mesmo quando eles não obtêm resultados positivos. Esse comportamento compulsivo é explorado pelas plataformas de apostas, que criam um ambiente em que os jogadores podem se sentir impulsionados a apostar mais, sempre na esperança de recuperar perdas anteriores.

Esse vício pode ter consequências devastadoras na vida financeira e emocional dos apostadores. Em 2024, o impacto das apostas online no Brasil foi alarmante, com milhões de pessoas comprometendo suas rendas a ponto de entrarem em situação de inadimplência. Os dados indicam que setores da economia, como o comércio e o turismo, sofreram quedas significativas no faturamento devido ao desvio de recursos das famílias para as apostas. O número de pessoas inadimplentes por causa das apostas aumentou, e muitos brasileiros passaram a destinar recursos essenciais para jogos, prejudicando seu bem-estar e o de suas famílias.

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou um estudo que avalia os impactos do crescente hábito das apostas online. Em 2024, os brasileiros gastaram R$ 240 bilhões com apostas. As famílias de menor renda foram as mais afetadas, com o índice de inadimplência entre elas subindo de 26% em janeiro para quase 30% em dezembro. No caso dos beneficiários do Bolsa Família, mais de cinco milhões de pessoas gastaram R$ 3 bilhões em apostas em apenas um mês.

De acordo com a CNC, o vício nas apostas e a expansão desenfreada desse comportamento resultam em grandes perdas para a economia, pois o descontrole financeiro tem prejudicado o consumo de bens e serviços. Esse fenômeno também intensifica as desigualdades sociais e o desvio de recursos, afetando negativamente a economia formal e as finanças das famílias.

Além disso, o vício em apostas tem se tornado um problema crescente no Brasil, afetando a saúde financeira e emocional de muitas pessoas. Portanto, é fundamental que os brasileiros entendam a diferença entre apostar e investir, e que busquem formas mais responsáveis e sustentáveis de gerenciar seu dinheiro.